opinião

Comportamento social e coletivo


Nesses tempos de festas de Natal, final de ano e Carnaval, repetem-se todos os anos a mesma prática de parcela significativa da sociedade gaúcha e brasileira, especialmente. Este ano, em um erro de perspectiva, imaginei que haveria um comportamento diferente por conta da crise financeira poucas vezes experimentada. Pelo menos, imaginava que, no Rio Grande do Sul, haveria uma retração de consumo porque já estavam reclamando os comerciantes e demais segmentos da economia. Mas não foi o que aconteceu. Nunca como antes mais pessoas se deslocaram para o nosso Litoral e para o de Santa Catarina em busca das águas refrescantes que amenizam o calor infernal de nossas cidades interioranas. Observamos que, em um único final de semana, 186 mil veículos passaram pela Freeway quando se iniciou um dos feriadões e o mesmo número retornou ao final do período de descanso. De todos os municípios, viajam pessoas para algum lugar no Litoral. E esse número é apenas dos que se dirigiram para o Litoral Norte. É muita gente. Como consequência, a economia se transfere em grande parte para o Litoral, e o comércio interiorano fica no prejuízo.

Se passarmos pela Avenida Paraguassú, em Capão da Canoa, por volta das 15h, todas as lojas de quinquilharia, e são muitas, estão tomadas por completo por pessoas sedentas para comprar. Pouco interessa a utilidade do que compram. O importante é comprar, afinal, estão de férias e no nosso comportamento social e coletivo isso é relevante, afinal, se todos agem assim, por que agiria de outra forma? Isso não é privilégio nosso, dos gaúchos e brasileiros, é generalizado. Parece que combinaram. Observam os argentinos e uruguaios, para mencionar os mais próximos e verão que adotam o mesmo comportamento consumista. Mas os estrangeiros que fiquem com as suas crises e soluções que julgam adequadas. A minha reflexão é com nossos irmãos de pátria.

Será que a crise é só uma fantasia e os aumentos da gasolina, semanalmente, e do gás muito além da inflação oficial, como os demais produtos, não traduzem uma crise financeira que afeta a todos, pobres, remediados e ricos? Bem, esses últimos estão excluídos da preocupação porque sequer visitam nosso Litoral de carros, ou alguns deles. Neste Carnaval está se repetindo o deslocamento e continuamos a ignorar que, no restante do ano, contas a pagar não darão trégua. Não pensem que a partir de março haverá recursos financeiros inesgotáveis. Ao contrário, a crise tende a piorar, e bastante. O quadro que se apresenta para o futuro próximo é terrível, que me perdoem os economistas. Esperar por um milagre é bem provável que não aconteça e é possível que tenhamos que esperar alguns anos ou décadas para recuperarmos o mínimo necessário para viver em condições dignas. Até lá, adotemos esse comportamento coletivo e meio sem regras, apenas porque todos fazem e pouco importa o futuro que, acreditam, haverá um salvador que fará brotar moeda forte para pagar nossas contas, garantir nossas compras e manter o nosso consumismo quase desenfreado. Até lá, bem, vou seguir os demais: férias, descanso com muito gasto sem necessidade e seja lá o que Deus quiser. Que venha um mundo melhor. 

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